Saturday 14 September 2013

Entrevistas de emprego em grupo

Se há desporto que aprecio verdadeiramente é assistir a uma boa entrevista de emprego, qual luta de cães sofisticada. Nada melhor do que uma grande mesa em formato de “U” entalada numa pequena sala sem janelas para aguçar o instinto animal.

O melhor do espectáculo acontece mesmo antes da entrevista, quando os candidatos são deixado sozinhos sob a suspeita de um “big brother” ou de um espião. Olhares incisivos, sorrisos a oscilar entre a verdade de dentro e a mentira lançada para fora, mãos desocupadas na manietação, unhas roidas e a gravata, sempre a gravata, a real e a invisível, que deixa os candidatos proclives.

Não é por acaso que os psicólogos valorizam tanto o silêncio, tal como a forma de sentar, o modo de dizer “bom dia”, se os braços estão fora da cadeira, se a camisa sobrevive com um botão aberto acima do afundar do peito, se o candidato sofre de obsticidade, se está apoiado só na borda da cadeira, se mexe as mãos, se mexe muito as mãos, se usa uma caneta e se no meio de tudo isto ainda arrisca gaguejar.

É neste silêncio feito de inanidades – inventado pela criança que foi às aulas sem vontade de escutar o professor - que se joga o futuro de um profissional.

As avaliações psicológicas estão na moda, de tal forma que se organizam semanas de testes apenas com um objectivo: avaliar o stress dos candidatos antes das provas. É precisamente este regresso do cinema mudo que torna a vida dos psicólogos de recursos humanos tão excitante.

Não que a parte da dinâmica de grupo não o seja. ¿Haverá melhor filme de suspense do que dar cinco minutos a dez candidatos para apresentarem as suas ideias e convencer os demais para aderirem às mesmas, repudiando as dos outros? ¿Haverá melhor comédia do que ver o jovem bem formado mas timorato, lacónico e ressabiado a vestir, tal como fez Álvaro de Campos, um “dominó” errado, que lhe ficará “colado à cara” até à velhice?

Dá-se a vitória do mundo concorrencial, alimentado por baixo. Não são as empresas que nos vêem como números, somos nós que aceitamos, enquanto grupo, ter um algarismo desenhando na fronte.

A robótica vai, assim, inundando o mundo dos humanos, não apenas com máquinas, mas sobretudo com maneiras, a tal ponto que uma fuga ao estabelecido pela via da criatividade – que, saliente-se, tem assinado a sobrevivência do Homem -, é motivo de dúvida e, consequentemente, de reprovação, nos campos profissional e social.

Aos directores de recursos humanos: ¿que tal propor aos candidatos que apareçam da forma mais original possível, exibiam os seus melhores predicados e apresentem as suas ideias ao grupo individualmente?

É tempo de os super heróis deixarem de usar máscaras. O cornífero Batman agradece.

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